Fonte : PT Nacional/ Elas por Elas
Em 2020, o país registrou 3.913 homicídios de mulheres, dos quais 1.350 foram registrados como feminicídios, ou seja, foram assassinadas por sua condição de gênero — morreram por serem mulheres. Esses dados são do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública publicado semana passada. Segundo a organização, os feminicídios representam a média de 34,5% do total de assassinatos de mulheres.
De modo geral, os resultados demonstram
redução de praticamente todas as notificações de crimes em delegacias de
polícia. A taxa de homicídios de mulheres caiu 2,1%, passando de 3,7 mulheres
mortas por grupo de 100 mil mulheres em 2019 para 3,6 mortes por 100 mil em
2020. Os registros de lesão corporal em decorrência de violência doméstica, por
exemplo, caíram 7,4%, passando de taxa de 229,7 crimes por grupo de 100 mil
mulheres para uma taxa de 212,7 por 100 mil.
As maiores taxas de feminicídio estão em Mato
Grosso com taxa de 3,6, Roraima e Mato Grosso do Sul, ambos com taxa de 3 por
100 mil mulheres, e Acre com taxa de 2,7. Em números absolutos, São Paulo
liderou o ranking de feminicídios no país com 179 casos, seguido por Minas
Gerais (148), Bahia (113), Rio Grande do Sul (80) e Rio de Janeiro (78).
No entanto, não basta apenas olhar o topo do
ranking. Um número muito baixo de registros pode significar tanto uma
efetividade das políticas públicas de segurança quanto um alto índice de
subnotificação e silenciamento das mulheres. As menores taxas estão no Ceará,
que ficou com 0,6 mortes por 100 mil, Rio Grande do Norte com 0,7 por 100 mil,
São Paulo e Amazonas com taxa de 0,8 por 100 mil mulheres.
Em números absolutos, os estados da região Norte
são os que menos registraram casos de feminicídio, sendo Roraima, Tocantins e
Amapá com 9 casos em 2020; seguido por Acre (12), Roraima (14) e Amazonas (16).
Em relação aos dados de tentativa de feminicídio,
chama atenção que cinco estados não
disponibilizaram esse registro em 2020, como é o caso dos governos de São
Paulo, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso e Pernambuco. Em
números absolutos, o Rio Grande do Sul registrou a maior quantidade de
tentativas de feminicídio do país (319), seguido por Rio de Janeiro (270) e
Santa Catarina (159).
Melhoria das políticas ou subnotificação e silenciamento?
A Secretaria Nacional de Mulheres do PT
acompanhou as repercussões dos aumentos de casos de violência
doméstica de mulheres, crianças e jovens durante a pandemia.
Nos casos de violência infanto-juvenil, a pandemia
fechou uma das principais portas de notificação de casos: a escola. Com programas específicos voltados para proteger a
criança no sistema educacional, elas ficaram sem uma via importante de denúncia.
Conselho Tutelares, judiciário e autoridades também levaram um tempo para se realocarem em um novo
sistema de atendimento remoto deixando a população que mais
precisa vulnerável à violência sem chance de registro.
Essas ponderações são importantes porque
ajudam a olhar o movimento dos gráficos. Ao analisar registros por mês de
ocorrência de casos de estupros e estupros de vulnerável no ano passado
percebemos uma queda brusca em abril de 2020, o primeiro mês de isolamento
social de prevenção à pandemia de Covid-19, que volta a crescer fortemente em
maio.
O alvo é o corpo da mulher negra
As estatísticas demonstram que o feminicídio e a
violência doméstica acometem mulheres do país inteiro, no entanto o peso do alvo
tem cor e raça. Entre as vítimas de feminicídio no último ano
61,8% eram negras, 36,5% brancas, 0,9% amarelas e 0,9% indígenas. Entre as
vitimas dos demais homicídios femininos 71% eram negras, 28% eram brancas, 0,2%
indígenas e 0,8% amarelas, apontou o Anuário.
Grau de risco: ser mãe. Mulheres com criança sofreram mais violência
A maternidade virou fator de risco para a
integridade física da mulher durante a pandemia. Um recorte inédito de um
estudo revelou que 60% das
mulheres que foram vítimas de violência doméstica na pandemia tem filhos
A pesquisa Visível e Invisível, realizada
pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Datafolha em 2021, demonstrou como
as famílias, especialmente, as mulheres estiveram nesse período, submetidas a
um ambiente de maior tensão nas suas vidas domiciliares.
Nos casos de violência mais graves
“espancamento” ou tentativa de estrangulamento’, “esfaqueamento, “tiro” esse
percentual é de 74,3% e 79,9%, respectivamente.
Isolamento para se proteger do vírus.
Medida Protetiva para se proteger do agressor
Em 2020, os Tribunais de Justiça concederam
mais medidas protetivas de urgência (MPU) do que o ano anterior. O isolamento
social não protegeu as mulheres dos agressores, elas continuaram buscando
proteção judicial. O número de medidas concedidas saltou de 281.941 em
2019 para 294.440 em 2020.
O telefone da polícia tocou todo minuto, todo dia, 24 horas sem parar
Os dados de chamados de violência doméstica
às Polícias Militares no 190 cresceram 16,3% em relação ao ano passado. Foram
quase 700 mil ligações para a polícia relativas a essa tipificação.
Isso significa que, em 2020, mais de um chamado por
minuto foi feito por vítimas ou terceiros pedindo ajuda em função de um
episódio de violência doméstica.
Todos os dias, mais de 600 mulheres bateram na porta das delegacias
Apesar da redução que pode ter diversos fatores —
incluindo não menos violência, apenas subnotificação — os números impressionam:
Mais de 230 mil mulheres denunciaram um caso de violência doméstica em 26
unidades da federação. Isso significa que ao menos 630 mulheres procuraram uma
autoridade policial diariamente para denunciar um episódio de violência
doméstica. Seguindo a tendência verificada nos registros de violência
doméstica, caíram também os registros de ameaça (-11,8%), e de estupro e
estupro de vulnerável (-14,1%).
Juventude feminina na mira de assassinos
A taxa de feminicídio tem uma distribuição
relativamente igualitária entre as faixas etárias. No entanto, em relação a
homicídio de mulheres, metade das vítimas (49,8%) são jovens — sendo 8,8% das
vítimas com 12 a 17 anos no momento da morte, 22,1% entre 18 e 24 anos e 15,3%
de 25 a 29 anos.
Entre as vítimas de feminicídio, as faixas etárias
se distribuem da seguinte forma: de 18 a 24 anos (16,7%), de 25 a 29 anos
(16,5%), 30 a 34 anos (15,2%), 35 a 39 anos (15,0%), com poucas vítimas entre
crianças e adolescentes.
Um macho conhecido com
faca, tesoura, canivete, pedaço de madeira na mão
A maior diferença na comparação entre
feminicídio e demais assassinatos de mulheres aparece no tipo de instrumento
utilizado para cometer o crime.
Armas de fogo respondem por 64% de todos os
demais assassinatos de mulheres, seguindo a média nacional.
Já a maioria dos feminicídios ocorrem
com a utilização de armas brancas como facas, tesouras, canivetes, pedaços de
madeira e outros instrumentos (55,1%) que podem ser utilizados pelo agressor.
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